(Nota introdutória)
VOZ A ECOAR PELAS QUEBRADAS…
Dizem-se
«ocasionais». De ocasião. Como suspiro d’alma que se dá, de quando em vez,
perante o inusitado, ao ler uma frase sentida, ou, mesmo, diante do rumo
ziguezagueante de uma Humanidade ora, cada vez mais, a desmerecer inicial
maiúscula.
Voz a
ecoar pelas quebradas. Um rio. Já o imperador romano Marco Aurélio escrevia ser
a vida qual rio torrentoso: mal acabas de ver a folhinha flutuante, ei-la que
já lá vai e, em seu lugar, outra vem, em jeito de abalada.
E
importava parar.
No
parque duma cidade ergueram monumento ao ancião: um banco igual ao banco onde
ele passava as tardes a ver as águas gorgolejar, a ouvir as aves trinarem ao
desafio: «O octogenário / sentou-se / num tronco / a meditar» (p. 75).
Para aí
voou meu pensamento, ao saborear estes poemas ocasionais.
Para um rio:
lavou avós
lavou netos
regou
no campo o esparteiro
rendilhou
de verde os fetos
da cerca do fazendeiro (p. 24).
Para a
Natureza:
na várzea dos
olmos
os
estorninhos
mostram-se
esquivos:
sobem
aos fios
e
pousam
espreitam
em
redor
receiam desafios (p. 74).
Para a
humanidade sem inicial maiúscula. A meter bem fundo o dedo na ferida, para que
sangre deveras:
de armas na
mão
e
drones no ar
sem
tripulação
e
sabem matar
corpo-computador
frio
e desumano…
quem
o manipula
diz-se um ser humano (p. 72).
Por isso, há
montes
maninhos
verduras
transgénicas
frutas
maduras
de
intervenções
polémicas (p.
65).
Por aí vamos, embalados ao ritmo do
soneto ou de rimas mais libertas, envoltas sempre, porém, numa suavidade que
encanta.
Fazemos nosso o libelo contra os
parasitas:
«Vérmina – disse o doutor, ao ser pelo
doente consultado; vermes – disse o eleitor, ao ser, pelos que elegeu,
parasitado» (p. 90).
Lamentamo-nos, evocando o Coriolano de
Shakespeare:
«Eleito a falsas promessas, este no
comando agora – ai, ai, Coriolano!... – eis, por fim, tudo às avessas, os
cidadãos ao engano!» (p. 81).
Sentamo-nos ao relento com o
sem-abrigo, a ver a Lua: «Tu tens uma cama quente», diz ele, «e a mim o que me
ajuda é um travo de aguardente!» (p. 14).
Sonhamos ser o «construtor da
habitação por vir, sem cerca ou alão de prevenir», porque «de todos tudo é e
abundante será!» (p. 66); e sorriremos, confiantes de que, um dia, o «clarão aberto»
vai mesmo deflagrar (p. 70), qual sereno desabrochar de «rosa rubra na lapela
sobre o peito» (p. 92). Cumprir-se-á, assim, uma «última vontade», porque,
entretanto, «da tundra ao Tibete», tu «disseste ao meu ouvido: ‘Amo-te!’» «e,
do deserto, a cheiro a menta se evolou aos cumes mais elevados»… (p. 79).
É assim
a poesia de Fernando Miguel Bernardes – na perspicaz atenção crítica ao que o
rodeia. E as suas palavras são sibilantes flechas certeiras; o objectivo: pôr
de novo inicial maiúscula na palavra Humanidade, ao lado de uma outra, que com
ela deve rimar também: a Liberdade!
José d’ Encarnação
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AUTOR:
Fernando Miguel Bernardes nasceu em Gândara dos Olivais, Leiria. Estudou nas
Universidades de Coimbra e Clássica de Lisboa, onde se licenciou.
Como engenheiro geógrafo, foi bolseiro da Fundação
Calouste Gulbenkian, tendo nessa qualidade feito uma pós-graduação em Cálculo
Científico.
Docente de Informática no ensino superior particular,
exerceu também funções de técnico superior de Sistemas Informáticos numa
empresa de construção naval.
Foi ainda director de departamento de uma câmara
municipal da Área Metropolitana de Lisboa.
Poemas de que é autor foram musicados e cantados, ou
declamados, alguns com gravação em disco ou DVD (Digital Versatile Disc), por artistas como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Niza, Manuel Freire, Daniel, José Jorge Letria, Samuel e José Carlos Ary dos Santos.
Antes da Revolução de Abril, devido à sua ideologia e posições tomadas como resistente ao regime, foi várias vezes detido, julgado e condenado nos chamados Tribunais Plenários, tendo cumprido as sucessivas penas em prisões políticas de Coimbra, Porto, Lisboa e Caxias. Mais tarde, foi-lhe reconhecido, pela Assembleia da República, o «mérito excepcional da contribuição dada à defesa da Liberdade e da Democracia».
Antes da Revolução de Abril, devido à sua ideologia e posições tomadas como resistente ao regime, foi várias vezes detido, julgado e condenado nos chamados Tribunais Plenários, tendo cumprido as sucessivas penas em prisões políticas de Coimbra, Porto, Lisboa e Caxias. Mais tarde, foi-lhe reconhecido, pela Assembleia da República, o «mérito excepcional da contribuição dada à defesa da Liberdade e da Democracia».
No seguimento da publicação dos seus livros para a
infância e juventude, vem visitando escolas do ensino básico por todo o País,
para, com as crianças, os pais e os professores, ler e comentar e dramatizar
alguns dos seus textos, previamente explorados nas respectivas turmas.
Co-fundador da Organização dos Trabalhadores
Científicos, é sócio activo de instituições científicas e culturais como a
Sociedade de Geografia de Lisboa, na qual foi inserido como vogal da Secção de
Geografia Matemática e Cartografia, ou como a Associação Portuguesa de
Escritores, sendo nesta membro efectivo da Direcção.
Integra e coordena habitualmente júris de prémios
literários de âmbito nacional e internacional.
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FICHA TÉCNICA
Autor: Fernando Miguel Bernardes
Editora: Mar da Palavra -
Edições, L.da
PVP: 15,90 €
N.º de páginas: 104
Formato: 14,7 x 21,0 cm
ISBN: 972-8910-74-7 (EAN: 978-972-8910-74-7)
PVP: 15,90 €
N.º de páginas: 104
Formato: 14,7 x 21,0 cm
ISBN: 972-8910-74-7 (EAN: 978-972-8910-74-7)
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Registo de notícias e outras referências:
https://www.facebook.com/149325878444472/photos/a.401126863264371.88598.149325878444472/1272383416138707/?type=3&theater
http://www.bibliofeira.com/livro/961884083/poemas-ocasionais/
https://www.wook.pt/livro/poemas-ocasionais-fernando-miguel-bernardes/18991372
http://www.bertrand.pt/ficha/poemas-ocasionais?id=18991372
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